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Paralisia cerebral e massagem

Há 5 anos atrás eu diria que meu estado físico, era o de “monstro” (era assim que eu me sentia!). Eu ficava numa posição totalmente desconsertada, caída para o lado esquerdo sobre meus quadris e joelho. Meu ombro esquerdo estava 20º abaixo do esquerdo! Eu sempre tive paralisia cerebral. Para caminhar sem ajuda eu tinha que me balançar e caminhar apoiada sobre as pontas do dedos dos pés. Mas em 1996 eu tive uma queda e caí apoiada sobre meu pé esquerdo. A partir daí tive que usar muletas para poder caminhar.
Depois da queda, os sintomas de espasmo da minha paralisia cerebral se tornaram mais pronunciadas. Meu corpo foi se acomodando numa postura tão torta que eu não podia mais me mover sem dores.
“Vickie [este é meu nome], você tem que se mover mais lentamente e ter paciência, ” disse meu médico. “Talvez seja a hora de você começar a usar a cadeira de rodas”.
“Cadeira de Rodas!?” Eu gritei silenciosamente comigo mesma. Tudo que eu podia pensar era: “Meus dias de caminhada [mesmo que todo desengonçado e doloroso] haviam chegado ao fim?”
Educadamente eu peguei a prescrição médica e fui para casa, onde cai em prantos. Será que minha paralisia cerebral finalmente tinha me derrubado,  eu pensei… Por quase 40 anos eu consegui me movimentar de um lado para outro sem ter que usar a cadeira de rodas.
Bengala, muletas e cirurgias corretivas já faziam parte da minha vida de deficiente físico, mas pelo menos eu conseguia andar. Será que a hora de permanecer sentada – para sempre- tinha chegado?
Finalmente, num momento entre o pânico e o desespero a resposta surgiu de dentro de mim: “Não! Eu não estou pronta!” Eu tinha que fazer alguma coisa… Eu tinha decidido viver sem dor e desconforto e claro sem a cadeira de rodas.
 
A JORNADA COMEÇA…
Os tratamentos médicos ocidentais para a paralisia cerebral consistem em dolorosas cirurgias corretivas, fisioterapias, medicamentos para a dor e espasmódicos. Todos estes tratamentos são usados para mascarar os sintomas físicos da doença, mas não são direcionados ao danos cerebrais que causam a paralisia cerebral.
Por mais de 40 anos eu recebi estes tipos de tratamento e me considerava com muita sorte por ainda ter mobilidade física. Mas eu tinha muito pouca esperança de melhorar além deste ponto. Meus médicos disseram que não havia nada mais que eles pudessem fazer para aliviar os sintomas físicos e as deformidades. Eu era muito velha, eles diziam, para fazer alguma coisa.
Eu havia ouvido falar sobre terapias complementares, como massagem e meditação e decidi investigar como eles poderiam me ajudar. Por quase 6 anos de busca eu descobri algo muito mais valioso: Eu comecei a descobrir o milagre da cura que vinha de dentro.
O Desert Institute of the Healing Arts in Phoenix, Arizona, estava aceitando deficientes adultos como parte de seus treinamentos práticos. Com a participação neste programa, eu descobri que depois da massagem eu ficava mais relaxada e os sintomas de  espasmos musculares eram reduzidos, pelo menos por um curto período de tempo. Minha circulação e mobilidade melhoraram, assim como a sensação de bem estar geral. Eu comecei a imaginar em que as outras terapias complementares poderiam me ajudar.
Eu aprendi sobre as técnicas de respiração e comecei a usá-las em conjunto com a massagem. Isto melhorou os resultados de cada sessão de massagem e eu saia me sentido e me movendo melhor. Desde então eu incorporei as técnicas de respiração às outras terapias que eu vinha recebendo.
Meditação foi a terapia seguinte que eu incorporei ao meu plano de bem estar. Eu aprendi a me concentrar nos trabalhos corporais que eu recebia, o que fez com que a sensação de melhora fosse mais prolongada.
Então eu comecei a receber semanalmente as sessão de massagem Tailandesa para trabalhar o problemas dos espasmos.
Passei a respirar corretamente, melhorando minha postura e fortalecendo meus músculo, meus espasmos deminuiram e minha flexibilidade como um todo melhorou.
Logo eu comecei a receber na mesma semana sessões de  massagem Tailandesa e massagem Sueca. Eu cheguei num ponto que toda minha dor tinha ido embora- e meu corpo estava se movendo!!!
Depois de um ano da combinação de massagem Sueca e Tailandesa, eu acreditei pela primeira vez que eu não tinha que viver com dor e desconforto.
 
LIBERTANDO MEU CORPO…
Eu continuei com minhas sessões de massagem terapêutica, e sempre experimentava novas terapias quando eu podia. Eu encontrei dois terapeutas de craniosacral, George Huguenin e Beverly Clark, os quais trabalharam comigo por 3 anos, algumas vezes juntos e outras vezes em sessões individuais.
A terapia craniosacral é uma modalidade manual que se foca no sistema craniosacral  – que são as membranas e o fluido cérebro-espinhal  que está ao redor do cérebro e do cordão espinhal.
Os praticantes usam toques suaves para monitorar o pulso do fluido através do sistemas craniosacral para identificar e corrigir qualquer desequilíbrio ou restrições nas membranas. Através da liberação das restrições ao sistema nervoso central, a terapia craniosacral liberar o corpo para um cura mais natural de si mesmo. Também pode permitir ao tecidos do corpo liberar os sinais de dor e emoção que podem ter acompanhado traumas passados.
Eu comecei um jornal semanal para documentar nosso progresso. Pouco a pouco cada um de nós foi testemunha do progresso alcançado nestes 3 anos de trabalho.
Quando eu comecei a terapia craniosacral, eu lia tudo que podia sobre o corpo e seus movimentos. Aprendi que a mente e o corpo estão verdadeiramente conectados, por isto ambos devem trabalhar em conjunto para proporcionar funcionalidade e boa saúde e que cada um armazena eventos do passado, tanto a mente quanto o corpo.
Como eu estava comprometida com o trabalho da terapia craniosacral, as coisas realmente começaram a mudar dentro e fora do meu corpo.
No início, o trabalho estava concentrado nos tecidos moles e estruturas do meu cérebro, além da sua caixa protetora, o crânio. Nós descobrimos que meu crânio estava fundido e imóvel. Não havia movimento de fluido ou músculo no crânio e o cérebro como um todo, parecia estar comprimido. George e Beverly perceberam que não apenas meu cérebro estava restrito,mas  parecia que apenas parte do meu cérebro estava trabalhando, como se as outras partes estivessem adormecidas.
Eles começaram “liberando” meu crânio passo a passo, fissura por fissura e seção por seção. Com o movimento, os tecidos moles do cérebro começaram a “acordar” e se comunicar com meu corpo.
Eles trabalharam por semanas até “liberarem” meu crânios e suas restrições.  Finalmente, meu crânio começou a se mover dentro dos padrões normais. Foi uma sensação bizarra. Quando o lado esquerdo do meu cérebro foi “liberado” e começou a movimentar, tudo do lado esquerdo do meu corpo começou a se “soltar”; meu ombro, quadris, joelho e pé.
Meus terapeutas também me encorajaram à realizar respiração profunda e meditação.
Minha mente e o sistema nervoso começaram a se comunicar de uma forma que eu jamais havia sentido antes.  Quando eu fiz um padrão de  movimento com meus braços e mãos, quase meia hora mais tarde minhas pernas e pés começaram a imitar estes padrões de maneira involuntária. O trabalho foi direcionado primeiramente para a mente e o sistema nervoso e então depois iríamos começar a trabalhar na “liberação” do corpo.
Em pouco tempo eu comecei a movimentar a cabeça e o pescoço livremente. A partir do pescoço nós descemos para os ombros.  Por quase toda a minha vida os movimentos foram muito limitados nesta área, além disto eu não tinha rotação lateral ou medial nas juntas do ombros. Sem esforço consciente, os músculos no meu ombro esquerdo, que não tinha movimentos antes, começavam a se contrair.  George e Beverly trabalharam por diversas semanas para “liberar” completamente o lado esquerdo e direito do meu ombro. Logo eu comecei a ter os movimentos normais em ambos os lados do ombros.
Em seguida foram realizados os trabalhos para os problemas de restrições nos tecidos e músculos dos braços e mãos. Parecia que cada fibra do meu corpo estava sendo “acordada” depois de um longo período de “sono”.
Agora era a vez das costas… O trabalho nas costas iria se mostrar difícil e doloroso. Minhas costas e quadril tinham ficado travados basicamente numa mesma posição por vários anos devido ao colete que eu usava. Na maior parte do tempo eu sempre tive movimentos limitados, mas minhas mãos, braços e ombros me ajudavam. Com  passar do tempo minhas costas foram ficando mais “soltas” e mais flexível.
Conforme minhas costas ficam mais flexíveis, eu ia ganhando movimentos mais livres, que me ajudavam a movimentar meus quadris. Agora eu conseguia encher melhor meus pulmões de ar.  Eu sentia que a cada dia ganhava mais e mais amplitude nos movimentos da parte superior do meu corpo. Eu estava radiante de alegria!
NOVOS CAMINHOS PARA O FUTURO
Conforme os tecidos e músculos do meu corpo iam ganhando liberdade e movimento, cada célula do meu corpo ia abandonando as lembranças de dor e trauma que eu sentia.
Neste últimos 5 anos,  houve a desobstrução de várias ligações no meu cérebro que estavam bloqueada, além da criação de  novas ligações cerebrais. Os meus espasmos reduziram em torno de 40 por cento. Meu movimento geral e amplitude destes movimentos aumentaram por volta de 50 por cento e continuam a melhorar.
Para as pessoas que não possuem nenhuma deficiência estes números parecem ser pequenos,  mas são grandes para nós que temos paralisia cerebral e não há como não ficar feliz com estes resultados. E o melhor é sentir que podemos conseguir melhorar estes resultados.
Agora eu sou uma voluntária e ajudo pessoas deficientes em terapias complementares através do TouchAbility, num programa que tem como base trazer pessoas como eu, que são um testemunho presente de que estas terapias realmente podem ajudar e os deficientes  que estão iniciando nas terapias complementares.
Minha jornada  pelo bem-estar tem sido gratificante, surpreendente e muito esclarecedora e eu sinto que isto continuará desta forma e irá melhorar a cada dia que passa e também sei que saúde, cura e bem-estar começam com nossa disposição e vontade de participar do processo e acreditar no poder da cura maior do que nós mesmos.
Veja também: Massagem ajuda portadores do Mal de Parkinson
Vickie M. Johnson é uma consultora independente para deficientes no TouchAbility. Ela mora em Tucson, Arizona, onde continua a receber massagem e outras terapias complementares.


Fonte: Massage Magazine July/August 2001

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